Vários gêneros literários são
relegados ao que alguns insistem em chamar “baixa literatura”. São eles o
policial, a fantasia, a ficção científica e – aquele a que pertencem as duas obras
de que tratarei aqui – a literatura infantojuvenil. Felizmente essa realidade
de diminuir aquilo que não se encaixa em moldes engessados, é algo que vem
mudando gradativamente. E para exemplificar a qualidade presente nas obras do
gênero, trouxe dois livros recentemente editados aqui no Brasil que, sem
dúvida, hão de mudar a concepção até do mais duro coração no que concerne a
literatura infantil.
“Entre as alunas, há uma menina que usa óculos. Ela os deixou sobre uma cadeira antes de começar a aula, como eu fazia com essa mesma idade nas aulas da senhora Dismailova. Não se dança de óculos. Eu me lembro que, na época da senhora Dismailova, eu treinava durante o dia para conseguir ficar sem os óculos. O contorno das pessoas e das coisas perdia a nitidez, tudo se tornava desfocado, até os sons pareciam mais abafados. O mundo, quando eu o via sem óculos, perdia a aspereza. Ficava tão suave e macio quanto um travesseiro fofo no qual encostava o rosto e terminava por adormecer.
– Está sonhando com o quê, Filomena? – papai me perguntava. – Você deveria pôr os óculos.
Eu obedecia e tudo retornava a rigidez e a precisão costumeiras. De óculos, eu via o mundo tal como ele era. Não podia mais sonhar.”
Uma história simples, despretensiosa, carregada de lembranças além da sensação que transmite de uma leitura gostosa, sem afetações, bonita... Que por alguns momentos nos leva pela mão e nos descortina uma Paris através dos olhos, despidos de óculos, de uma criança feliz. As ilustrações de Jean-Jacques Sempé embelezam ainda mais as páginas e a história de Filomena e seu pai. Um traço lindíssimo que teve um casamento perfeito com as lembranças de Filomena, resultando numa impressão não só de memórias, mas também, e principalmente, de como se fossem... Sonhos.
O segundo livro, devo dizer logo de uma vez, se tornou um dos meus favoritos. E, sem dúvida, é uma das coisas mais belas que li nos últimos tempos.
De um autor já conhecido por aqui, estou falando do incrível O paraíso são os outros, do mais que querido, Valter Hugo Mãe. Este texto, agraciado com obras de Nino Cais, é muito simplesmente uma ode ao amor, narrado por uma menina. Dividido em pequenos capítulos, essa narradora menina versa com cada vez mais beleza e delicadeza toda a riqueza presente nesse sentimento que cabe numa palavra tão pequena. Por mais que eu corra o risco de me repetir, tenho que ressaltar, de novo, o quanto o conteúdo dessa obra é belo, e o quanto uma simples leitura de um dia pode trazer uma sensação tão boa, uma certa tranquilidade que eu não consigo explicar.
Na verdade, o que, para mim, esses dois livros tem em comum, é a sensação de felicidade que ficou depois da leitura. Acostumada que estou a livros trágicos e tristes até o tutano, qual não foi minha surpresa ao me deparar, no mesmo dia, com duas obras tão bonitas que me envolveram num sentimento tão bom. E hoje queria abrir novamente as janelas deste espaço, que me é tão querido, e compartilhar com vocês esse sentimento bom. É isso. Até a próxima.
Adoro livros infantis, muitas vezes falam muito mais do que os realmente voltado aos adultos.
ResponderExcluirComo sempre, Taci, ótima resenha! Não canso de ler seus textos. Já pensou em escrever uma história? Eu leria com certeza :)
Beijão!
Um Metro e Meio de Livros
Babi, muito obrigada! Vontade de escrever eu até tenho, só não tenho o talento necessário mesmo... É como se nada que eu produzisse fosse bom o suficiente, aí sempre acabo deixando de lado... :/ Mas obrigada por ser uma leitora! haha <3
ExcluirBeijão!