"Nós todos temos tanto medo, nós todos somos tão sozinhos, nós todos precisamos tanto que venha de fora a garantia de nosso próprio valor para existir."
Quanto mais e mais penso e repenso a respeito de O bom soldado, só consigo chegar a uma conclusão: é este o livro, mais do que qualquer outro, que eu gostaria de ter escrito. O estilo de Ford Madox Ford, o modo como ele conta sua história, aos meus olhos não é nada menos do que fantástico. Por fantástico não quero nem dizer que a trama é original, inovadora, ou qualquer coisa que o valha, mas toda a dubiedade dos personagens somada a narração de mestre proporcionada pelo estilo de Madox Ford, fizeram com que O bom soldado se tornasse uma das melhores leituras deste ano.
A história é narrada por John
Dowell, um americano que vive viajando pela Europa com sua esposa Florence, até
que numa dessas viagens acabam conhecendo um típico casal inglês, Edward
(ex-militar e o bom soldado referido no título) e Leonora Ashburnham. E são
esses dois casais que formam o quarteto central de O bom soldado, é a história
do que aconteceu durante os nove anos de amizade entre esses dois casais que é
contada por John Dowell, e magistralmente narrada por Madox Ford. “Uma história
de paixão”, diz o subtítulo; “Esta é a história mais triste que já ouvi”, é a
primeira frase. E um caminho bastante emaranhado ligando as duas orações.
Francamente, não sei nem como
começar a falar sobre O bom soldado. Mas já que me propus o desafio, vamos lá!
A começar pela narração, que é o ponto alto do livro. O nosso
narrador-personagem, John Dowell, é quem relembra os fatos que passa a nos
contar. E digo assim mesmo, nos contar, porque ele mesmo nos chama de “ouvinte
silencioso”. Sabemos logo de início que dois personagens já estão mortos quando
a história começa a ser contada. John Dowell é agora um viúvo, e o amigo Edward
Ashburnham também já passou desta para uma melhor (ou pior, se você for
pessimista). Começamos a ouvir sua história sem saber o que esperar, e somos
muito bem recompensados quando passamos a descobrir.
A narração não é de modo algum
linear. John Dowell passeia por suas lembranças ao mesmo tempo em que
acrescenta atuais impressões a acontecimentos há muito passados. É uma narração
cheia de digressões, que nos confunde e nos instiga cada vez mais até enfim
elucidar nossas dúvidas. E nesse ponto não sei mais o que dizer além de que foi
uma das narrações mais sensacionais que já tive o prazer de ler. John Dowell
volta ao passado, passeia um pouco numa determinada memória, para em seguida
explicar um outro acontecimento, que a princípio não parece ter ligação com o
que ele estava contando logo no começo. E é fantástico! O que Madox Ford fez
aqui, francamente, não consigo classificar de outra maneira senão fantástico!
O bom soldado é definitivamente
uma história de paixão. Ou, mais especificamente, das paixões de Edward, o
nosso bom soldado. Uma pessoa que nos é mostrada como correta e boa, mas
essencialmente emocional que sempre se deixava levar por seus sentimentos, até
que entra em cena um outro elemento essencial à história, e é esse elemento
somado a natureza sentimental de Edward que torna, nas palavras do nosso
narrador, esta história a mais triste que ele já ouviu.
Madox Ford nos passa imensas
emoções no decorrer da história, a cada momento nos sentimos de maneira
diferente com relação às personagens e a dubiedade chega até a nós. São
personagens tão essencialmente humanos, cometendo erros tão humanos, sendo
guiados por sentimentos absurdamente humanos. E essas mesmas personagens não
fazem esforço algum para tentar nos conquistar e mesmo assim somos levados para
o centro de suas emoções! Definitivamente o ponto alto e forte deste livro é a
narração de Madox Ford. O bom soldado é considerado uma obra-prima e não poderia
ser diferente.
Tinha ouvido falar muito do Ford Madox Ford, por causa dos autores que ele influenciou, mas sempre fui deixando. Mais uma resenha sua que me convence a mudar de ideia.
ResponderExcluirQue bom que mudou de ideia, Raphael. O Madox Ford vale e muito a leitura.
ExcluirEu tinha tirado esse livro na biblioteca há algum tempo, mas a faculdade não me deixou ler :/ lembro bem na narrativa, é incrível mesmo; ele vai falando dos casos de um jeito muito instigante, e ele te conta sem falar com nenhuma palavra explícita que nada era o que aparentava ser. Parece ser excelente mesmo!
ResponderExcluirAi, será que um dia eles trazem Parade's End pra cá? Já li muitos comentários sobre esse e todo mundo fala que é perfeito, cheio das complexidades e das tretas. Mas é tão grande e parece ser meio complicado, então eu tenho medinho de arriscar no original...
Exatamente! Essa narração de Madox Ford é o grande trunfo do livro e é incrivelmente bem feita!
ExcluirPoxa, queria tanto que trouxessem Parade's End pra cá... Ainda não criei coragem para me arriscar no original justo por essa combinação de livro enorme + complexo. Não quero me arriscar a perder detalhes de uma trama como essa, como provavelmente aconteceria caso eu lesse no original. Será que um dia a Alfaguara traz pra gente?
Sempre fico pensando que passar pelo seu blog me fará aumentar minha lista de querências, porque suas resenhas são ótimas e instigantes. Descobri esse livro quando estava lendo Firmin, me deu vontade de comprar, deixei passar algumas oportunidades, mas agora fiquei com muita vontade. Como é bom ter essa sensação, a de fazer uma leitura incrível.
ResponderExcluirBeijos
Flávia, muito obrigada! E essa sensação é realmente incrível. Mesmo durante a leitura já perceber que tem em mãos um grande livro já é uma felicidade.
ExcluirBeijos!
Taciele, que lindo texto e preciso confessar: fiquei com vontade ler esse livro agora, rs. Sério, vou colocar na minha listinha ;) Fiquei instigada, principalmente, com a narrativa e com a relação entre os casais. Vou procurar esse, com certeza!
ResponderExcluirbeijo grande,
Maira
Oi, Maira! Que bom que gostou. :)
ExcluirFico muito feliz em ver que algumas palavras minhas puderam instigar a vontade de outras pessoas em lerem o livro! Beijão!
Taci, tenho que confessar que simplesmente adoro ler suas resenhas! Você escreve muito bem, se um dia resolver começar a escrever um livro, pode contar comigo como fã ;)
ResponderExcluirBeijoos!
Babi, que bom ler isso! Muitíssimo obrigada! =DD
ExcluirBeijos!
Ah, Taci... mais um livro que já cheguei a por no carrinho e deixei de lado e que me arrependo de não ter comprado depois de ler sua resenha.
ResponderExcluirDe certo modo, me lembrou "O Jantar", pelo fato dos personagens serem dois casais e do jogo de aparências, como revelações cada vez mais aterradoras. Enfim... da próxima vez que vir esse livro em promoção, efetuarei a compra. Tks por me convencer!
beijo e um ótimo 2014 pra você!
Mi, só comprei esse porque o Madox Ford já estava na minha lista fazia um bom tempo por causa de outro livro dele. Acabei dando uma chance e fui surpreendida!
ExcluirAgora fiquei interessada em 'O Jantar'. Vai pra lista e assim que a oportunidade surgir, lerei com certeza!
Beijão e um 2014 incrível pra nós!! =D
Olá, Taciele! Tudo bem?
ResponderExcluirTenho curiosidade de ler Ford Madox Ford desde que conheci a minissérie “Parade's End” (com o lindo Benedict Cumberbatch <3). Acabei não assistindo o seriado todo, pois estou com esperança que a Alfaguara traga “Parade's End” pro Brasil.
Pelas suas impressões “O Bom Soldado” parece ser uma história simples, mas fascinante! Ótima resenha! ^_^
Beijos!
Oi, Lulu! Vou bem e você? ^^
ExcluirEntão, conheci o Madox Ford da mesma maneira, há um ano. Na verdade só o conheci por culpa única e exclusiva do Benedict Cumberbatch (sou dessas que quer assistir tudo que ele faz) e aí foi na época que lançou Parade's End e eu fiquei completamente encantada. Na falta da obra que me fez conhecê-lo, fiquei com O Bom Soldado e foi uma escolha muito feliz.
Também tenho esperanças que a Alfaguara traga a tetralogia pra cá. Aliás, concentro toda a minha energia positiva nessa esperança, haha.
Beijos!
Oi, Taciele! Acabei de passear pelo seu arquivo e descobri que a gente leu Norwegian Wood na mesma época e com impactos parecidos! Muito lindo esse livro, tenho que ler outro do Murakami em breve. Enfim, só pra dizer que amei o blog.
ResponderExcluirP.S: eu também já quis ter uma iguana. =)