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O Grande Gatsby – F. Scott Fitzgerald

15/07/2013

A tal da idealização é um bicho muito complicado. A idealização de um amor, de um ser amado, de um passado e, mais do que tudo, a idealização de um ser humano é algo desprovido de bom senso e muito perigoso, visto que o idealizador jamais espera do objeto idealizado algo fora do previamente imaginado, algo aquém das suas expectativas.



 “E assim avançamos, botes contra a corrente, impelidos incessantemente de volta ao passado.” (p. 241)

Fitzgerald retratou muito bem, em O Grande Gatsby, a realidade da classe extremamente rica norte-americana nos anos 1920. A falta de empatia, de consideração pela vida e sentimentos de outra pessoa, a total certeza de que o dinheiro tudo blinda, tudo resolve e nada mais importa. E Fitzgerald mostra isso de uma maneira muito simples, numa leitura rápida e agradável, que apesar de tudo propõe uma reflexão a respeito do materialismo desenfreado, tema esse tão atemporal.

O livro é narrado pelo ponto de vista de Nick, que é o mais próximo de amigo que Jay Gatsby (duplamente personagem nesta história) vem a ter. Gatsby é um ricaço solitário, um tanto misterioso, provocando sempre a curiosidade dos convidados de suas festas de arromba. Aliás, uma coisa é certa: Jay Gatsby sabia como dar uma boa festa. O fato é que Gatsby é completamente apaixonado (e aqui que entra toda a minha introdução a respeito de idealizações) por Daisy Buchanan, outra ricaça (esta de berço) que ele conheceu na época em que era um simples soldado pobre antes da Guerra, e só a reencontra cinco anos depois. Só que Daisy está casada e apesar de dar indícios de que aquele amor do passado é algo do passado e que não tem pretensão alguma de separar-se do marido, a Daisy idealizada por Gatsby ama e sempre amou só a ele. Que seus anos de casada foram apenas um erro que poderia facilmente ser resolvido.

“Gatsby não esperava outra coisa de Daisy senão que encarasse o marido e dissesse: “Nunca te amei”. Após apagar quatro anos com essa frase, então ambos poderiam tomar medidas mais práticas. Uma delas era que, após a separação, Daisy retornaria a Louisville com Gatsby e se casaria em sua terra natal como se fosse há cinco anos.

E ela não consegue entender ele disse Ela costumava entender. Ficamos sentados por horas...

Ele se deteve e passou a andar de lá para cá num caminho desolado de cascas de frutas, lembranças abandonadas e flores esmagadas.

– Veja, eu não pediria tanto assim dela – arrisquei. – Não dá para repetir o passado.

Como assim, não dá para repetir o passado? ele gritou, incrédulo. É claro que dá!

Ele olhou furiosamente ao redor, como se o passado estivesse escondido à sombra de sua casa, bem ao alcance da mão.
Vou refazer tudo como era ele disse, assentindo de um jeito decidido. Ela vai ver só.” (p. 172)

O livro todo é permeado do materialismo de pessoas vazias, pessoas desonestas, pessoas capazes de destruir a vida de outras e simplesmente se “livram” do problema saindo da cidade, para continuar com a vida de infantilidade, imaturidade e irresponsabilidade em outro lugar.


O final é triste e deixa o gosto amargo da injustiça. A liberdade e a impunidade proporcionadas pelo dinheiro. E tudo isso causado pelo endeusamento de um simples ser humano, que erra com mais frequência do que acerta; tudo isso causado pela lembrança (talvez distorcida) de um passado. Lembro que li em algum lugar, embora não lembre onde, que uma lembrança feliz do passado, é sempre mais feliz do que verdadeiramente foi aquele momento (não nessas palavras, mas era esse o sentido), e foi exatamente assim com Gatsby. Esperou – e idealizou – durante anos para voltar e reviver seu passado. Quando pensou que enfim estava prestes a conseguir realizar seu único objetivo, viveu uma história sozinho enquanto imaginava estar acompanhado. 

4 comentários:

  1. Ótima resenha, Taci!
    Eu achei a leitura meio arrastada, mas não há como negar que a história é incrível. E tão revoltante por causa do esnobismo e da futilidade dos ricaços! E com um final muito, muito triste.
    bjo

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    1. A futilidade, o esnobismo, a infantilidade... Tudo isso somado ao final causa uma revolta bem grande mesmo. Mas li bem rapidinho, em duas sentadas o livro acabou. Beijos!! =D

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  2. Olha, eu comecei lendo devagar e achando muito arrastado (estava vindo de uma coleção do Bukowski) e quase desisti da leitura. Ainda bem que não fiz isso!

    Um livro incrível com um conteúdo sempre atual!

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    1. Então, eu estava vindo de Dostoiévski aí a leitura de Gatsby foi muito leve em comparação com a anterior. Talvez por isso não senti a leitura arrastada.

      Apesar de não ter se tornado um dos meus favoritos, nem mesmo um dos melhores que li este ano, certamente vale a pena por sua atemporalidade!

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