Antes de tudo, gostaria de dizer que nunca, em toda minha vida como leitora, fui tão mentalmente sugada por um livro como o fui por Crime e Castigo. Mesmo agora, depois do término da leitura, anda me sinto mentalmente cansada por ter mergulhado tão intensamente na montanha-russa sentimental que é Raskólnikov. Fiódor Dostoiévski alcançou outro nível com Crime e Castigo. A “loucura” de Raskólnikov, que foi não menos do que brilhantemente narrada, eleva ainda mais a literatura russa, já consagrada por seus autores sempre sensacionais em retratar os sentimentos humanos mais reais, mais crus, mesmo que sejam personagens fictícios.
Crime e Castigo não é um livro fácil de ser lido, muito menos de uma leitura constante. Dostoiévski criou uma obra densa, visceral, que em diversos momentos parece mais um furacão. Raskólnikov por si assemelha-se mais a um trem desgovernado que às vezes freia subitamente, para recomeçar o percurso rumo a lugar nenhum ainda mais descontrolado. Duvido muito que alguém não saia de Crime e Castigo com a base de si mesmo um pouco (ou muito) abalada; que Dostoiévski não balance as estruturas do leitor seja ele quem for. Sente-se uma grande angústia não só por Ródia, como por todos aqueles personagens que, em menor ou maior grau, tem uma parte da sua alma desnudada e esmiuçada por Dostoiévski.
Mas vamos aos fatos: Rodion Românovitch Raskólnikov, o protagonista transtornado desta história, talvez por dinheiro ou talvez como uma forma de provar a si mesmo de que é um homem superior aos demais, resolve-se por matar uma velha usurária. Velha essa que, segundo o próprio Raskólnikov, não passava de um piolho e que sua morte foi mais um bem do que um crime. Entretanto, a irmã da velha aparece na hora errada, no lugar errado e acaba por presenciar o crime, o que leva Rodion a cometer o segundo assassinato: acaba por matar também a irmã da velha usurária. Esse então foi o crime. A partir de então, vem o castigo. Imposto de si, para si pelo próprio Raslkólnikov! E não pense que é por arrependimento que ele se perde num frenesi durante toda a história, mas sim pelo fato de não conseguir continuar com sua vida como se nada houvesse acontecido; de não ser um dos homens extraordinários, tal qual Napoleão Bonaparte [frequentemente citado por Raskólnikov como um homem que não se importaria com ninharias (como matar uma velha usurária) para atingir os seus objetivos].
E mesmo assim Ródia sofre, e como sofre! E nos leva a sofrer junto com ele, a se angustiar junto com ele. Nós os seguimos pelas ruas e becos e tabernas e cubículos de São Petersburgo sempre, e cada vez mais, com o coração apertado. Sem nos atrevermos a adivinhar o próximo passo, o que virá a seguir... A leitura de Crime e Castigo me durou mais de um mês, um tempo relativamente longo para um livro de pouco mais de 500 páginas, e mesmo assim me teria custado muito mais graças ao enorme esgotamento que ele me causou, não fosse a minha vontade por acabar com o sofrimento; o de Ródia e, por tabela, o meu.
O livro é permeado de diálogos não menos que sensacionais. A sequência do diálogo entre Porfiri e Ródia, durante seu primeiro encontro, no qual discutem o artigo de Raskólnikov (artigo esse no qual Ródia divide os homens em ordinários e extraordinários. Os primeiros são apenas os seguidores da ordem, não tem o viço para serem mais do que a massa mediana da população; já os segundos, são a nata, àqueles a quem a lei não importa, porque eles fazem sua própria lei, não necessitam seguir aquilo que desprezam, pois são superiores a tudo isso), é absurdo, no melhor sentido que a palavra pode empregar, é afiado como uma adaga. E uso apenas esse diálogo como um exemplo, até porque o que não falta a Crime e Castigo são essas discussões longas que tem o poder de fazer o leitor não desviar os olhos das palavras nem no virar das páginas.
Crime e Castigo é esmagador. Tem a força de uma machadada desferida por um homem que considera a si mesmo como extraordinário. E o é. Porque quanto mais conhecemos o íntimo e as lutas ferrenhas no interior de Raskólnikov não conseguimos não perceber, apesar de tudo, sua retidão, seu senso de justiça, seja ele distorcido ou não. Eu fui, estou e continuarei sendo constantemente sendo esmagada pela força de Dostoiévski, independentemente do incômodo que sua história causa, o final é extremamente significativo, sendo até muito bonito depois de todo o sofrimento sentido. É muito difícil não levar Crime e Castigo consigo depois de ter sido esmagada por Fiódor Dostoiévski.
CONVITE
ResponderExcluirPassei por aqui lendo, e, em visita ao seu blog.
Eu também tenho um, só que muito simples.
Estou lhe convidando a visitar-me, e, se possível seguirmos juntos por eles, e, com eles. Sempre gostei de escrever, expor as minhas idéias e compartilhar com as pessoas, independente da classe Social, do Credo Religioso, da Opção Sexual, ou, da Etnia.
Para mim, o que vai interessar é o nosso intercâmbio de idéias, e, de pensamentos.
Estou lá, no meu Espaço Simplório, esperando por você.
E, eu, já estou Seguindo o seu blog.
Força, Paz, Amizade e Alegria
Para você, um abraço do Brasil.
www.josemariacosta.com