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"Artur, o Rei que Nunca Foi, o Inimigo de Deus e Senhor das Batalhas"

10/04/2013

Limpe da sua mente todas as histórias que já tenha lido a respeito do Rei Artur. Esqueça o fato de esta ser a história mais contada através dos tempos. Faça de conta que esta não é a “lenda” mais conhecida do mundo. Feito isso, abra o seu volume de O Rei do Inverno, o primeiro livro da trilogia As Crônicas de Artur, do autor inglês Bernard Cornwell, e depare-se com a mais "precisa" história a respeito desse personagem tão mítico que foi Artur. Ah, esqueça também o título de “Rei”, porque aqui, Artur não governou (por direito) reino algum. Confesso que é difícil tirar da cabeça algo tão arraigado, uma história tão comumente disseminada e já intrínseca a memória como a lenda do “Rei” Artur, Os Cavaleiros da Távola Redonda, e a própria Avalon. Assim como seus personagens únicos e mundialmente conhecidos, tais como: Merlin, Morgana, Guinevere, Lancelot... Abra sua mente, e conheça a mais humanizada versão sobre quem foi Artur.

O livro é narrado pelo ponto de vista de Derfel, um padre que (quando jovem foi um dos guerreiros do cavaleiro mais famoso de todos os tempos) foi incumbido por sua patrona, Igraine (homônima da mãe de Artur), rainha de Powys, casada com Brochvael, de escrever a verdadeira história sobre o Rei que Nunca Foi. E aqui tive um certo descontentamento. Eu esperava um livro cujo foco fosse a vida de Artur, desde criança até os grandes feitos. E como não foi isso que aconteceu, toda a minha expectativa ficou um tanto quanto sem norte. Eu não sabia que reação demonstrar diante de algo que eu, realmente, não esperava. Nesta história, Artur já é conhecido e reconhecido, não acompanhamos o início de tudo, não somos introduzidos pouco a pouco, logo no início já mergulhamos de cabeça, e só conhecemos o tido protagonista pelos olhos de, inicialmente, uma criança. E isso me incomodou. E me incomodou bastante consideradas as minhas altas expectativas que não foram, ao menos totalmente, atendidas. E encontrar um livro do Bernard Cornwell, um dos meus autores favoritos, aquém das minhas expectativas logo na sua obra mais famosa, foi, no mínimo, inesperado. 

E já que o assunto são os incômodos, outra personagem que me deixou absolutamente frustrada foi: Morgana. Sempre imaginei Morgana como uma das mulheres mais fortes e menos submissas nessa história. Uma mulher com vida própria. Alguém que fazia as engrenagens dessa história rodar. E a Morgana apresentada, foi tão aquém do que eu imaginava que, foi a maior frustração que eu já tive, diante de toda a expectativa criada. Aqui, Morgana se torna uma simples personagem secundária, cuja importância é menor que a de Nimue, outra sacerdotisa e amante de Merlin. E por falar em Merlin, o mago só resolve aparecer na segunda metade do livro, quando Artur já tinha jogado sua vida no lixo, ao casar-se com Guinevere. E se existe casamento mais amaldiçoado que esse, eu desconheço completamente. Guinevere manipulou e jogou com Artur, até que, por fim, conseguiu fazer com que um casamento fosse feito escondido e as carreiras, e iniciar uma guerra. E aí sim, a partir desse casamento nefasto, é que Artur degringola de vez. Então, a história, de fato, começa.

E não houve decepção maior que: Lancelot. Digo decepção não por a história ser ruim, de modo algum! Disse e repito que esta versão sobre a vida de Artur é a mais precisa, considerando o lado humano de cada personagem envolvido. Por isso, e exatamente por isso, eu sugeri que todos limpassem das suas mentes todas as lendas e histórias já contadas a respeito desse, antes de tudo, ser humano. Só que é impossível, para mim, fechar os olhos para quem foi Lancelot (ao menos, segundo Bernard Cornwell): um covarde vaidoso. Nada de guerreiro emplumado, honrado e etc. Apenas um homem vil, covarde, invejoso e vaidoso. Claro que o par perfeito para Guinevere.

O único personagem, que apesar de demorar a aparecer, que não ficou aquém do esperado foi, ninguém mais, ninguém menos, que Merlin. E, apesar de, ao menos neste primeiro volume, não dar o ar da sua graça com a frequência que eu gostaria, foi uma passagem feliz, sendo o Merlin que eu esperava que fosse. E algo assim acontecendo depois de tantos desencantos, deu-me um ânimo a mais para prosseguir. Foi como respirar ar puro depois de muito tempo respirando fumaça de carros.

A narração das batalhas são o grande ponto de forte de Bernard Cornwell. Ele as descreve tão bem que nos teletransporta até aquele momento, tenha ele existido ou não. O que torna a leitura infinitamente mais rica. E é por isso, por essa característica que torna Cornwell tão bom  no que faz, que O Rei do Inverno não foi tão frustrante e cercado de desapontamentos. A história é ótima, a narrativa é melhor ainda, o modo como tudo é tratado não deixa a desejar, mas, por motivos já explanados, esse primeiro volume de As Crônicas de Artur não funcionou para mim.

Sou fã de Bernard Cornwell, tenho A Busca do Graal como uma das minhas obras favoritas já escritas por ele, mas, infelizmente, não senti o mesmo com relação a história de Artur. E a "culpa" disso é totalmente minha. Vim com muita sede ao pote, transbordando de expectativa, e quando não encontrei nada daquilo que imaginava estar à minha espera, simplesmente, me desencantei. Pretendo, com toda a certeza, ler os próximos volumes, embora não com a mesma vontade com que comecei este primeiro. O que talvez seja uma coisa boa, já que a grande expectativa que eu sentia foi o que "estragou" a leitura deste volume. No mais, recomendo a todos que gostam de ficção histórica, do Bernard Cornwell, e das lendas e histórias a respeito do tão famigerado "Rei" Artur. 

4 comentários:

  1. Eu dei essa trilogia de presente para a minha mãe no aniversário dela (sim, somos uma família de bookaholics rs). Ela me disse que adorou e, a sua descrição me deu ainda mais vontade de lê-los.

    Parabéns!!

    Beijos.

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    1. Obrigada Helena, que bom que gostou!

      Realmente, o livro é muito bom e essa perspectiva de um Artur menos mítico tem grandes méritos. Meu problema, talvez, foi ter lido As Brumas de Avalon antes dessa trilogia... :/

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  2. Que chato se frustrar por causa das expectativas altas! Eu não sou das fãs mais fervorosas das histórias do rei Arthur, então acho que começaria a ler o livro sem esperar nada (exceto aquilo que todo mundo já ouviu falar sobre a história). Nunca li nada do autor, e acho que essa seria uma boa forma de começar :)
    bjo

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    1. Então Michelle, foi isso que me frustrou. O fato de eu esperar aquilo tudo que todo mundo já ouviu falar, e a leitura não ter correspondido à isso.

      Já li uns 5 livros do BC e a qualidade narrativa nunca cai. É um dos autores que mais gosto dentro do gênero que ele se dispôs a escrever, e recomendo muito não só o Rei do Inverno (que apesar de não ter casado comigo, é um livro ótimo com uma história muito boa), como todas as outras obras.
      Beijo ^^

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